A MENINA QUE NÃO SABIA CAVALGAR
( Autor: Carlos Menino Beija-flor )
Num lindo e distante lugar,
vivia uma menina muito graciosa, tímida, recatada, cujos olhos pareciam pedras
furta-cor, às vezes com um brilho feliz, às vezes com um brilho triste, às
vezes com todas as cores, e às vezes se adaptando à cor do momento, para disfarçar
alguma inquietação. Sim, a menina era inquieta, parecia ter um poço de poesia
dentro de si, um desejo de ir mais além, um algo mais que só a alma feminina
sabe esconder, mas ela não queria mais conter.
Todas as manhãs, a menina de sua janela, contemplava com semblante sonhador a
grande montanha, de onde o sol saía parecendo lhe chamar, para ela saber como
era gostoso chegar ao topo, como era bom sentir o sabor do êxtase, a doce
loucura de chegar ao ápice,de fechar os olhos, abrir os braços e dizer: “Como
foi bom chegar aqui”... e depois se entregar àquela cachoeira que proporcionava
um agradável contraste cor de prata, banhando o verde da imponente montanha. Um
elegante cavalo branco se lhe apresentava, dizendo: “Vamos, moça. Suba em mim,
eu posso levar você até lá. Lá é um lugar maravilhoso. Não tenha medo de
cavalgar, a felicidade é querer”. Mas a menina tinha medo, nem sabia exatamente
por que tinha medo, apenas sabia que tinha, fora acostumada a ser presa,
retraída, o medo lhe foi imposto talvez, ou talvez ela mesma tenha criado em si
o medo, afinal somos assim, criamos medos, barreiras, escuridões e fantasmas
dentro de nós. O que as pessoas não sabem é que, se criamos, também podemos
desfazer. É verdade que algumas algemas são colocadas pela sociedade, mas não
são impossíveis de serem quebradas, afinal, a imaginação, o pensamento, não
pertence a ninguém a não ser a você mesmo, é a única coisa que não ninguém pode
lhe tirar. E assim, com tanta imaginação, com tanto desejo querendo aflorar,
fluir de dentro dela, um dia a menina venceu o medo. Era uma manhã diferente,
mais linda que todas, o sol mais brilhante, a cachoeira mais charmosa, a
montanha mais verde, o cavalo mais provocador... e ela, mais provocável. Tudo
conspirava para a felicidade. Ela disse de olhos fechados: “É hoje”. Alisou o
cavalo, sentiu seu dorso lhe passando segurança, beijou sua crina, e subiu. E
cavalgou. A cavalgada começou suave, leve, afinal a menina era uma
principiante, o cavalo sabia disso, e soube conduzi-la, a cada trotar, a cada
evolução. Ela segurava em sua crina com prazer e confiança, sorria lindamente
sentindo os prazeres de sua primeira cavalgada, aquele vento gostoso na face,
aqueles movimentos que cada vez mais a levariam ao topo da montanha, ao ápice,
ao auge da felicidade. E a cavalgada foi ficando cada vez mais excitante, mais
veloz, mais intensa, agora a menina também sabia conduzir o cavalo, até chegar
finalmente ao ponto mais alto que desejou a vida toda. E sorriu... sorriu...
sorriu como nunca dantes, abraçada ao cavalo amigo, agradecida pelos momentos
de êxtase. Tomou banho de cachoeira, a cachoeira tinha mesmo o frescor que
imaginava, lá de longe no parapeito de sua limitada janela. Mas agora estava
tudo diferente. Pronto... romperam-se as barreiras, os grilhões, a escuridão e
o medo. E assim, todos os dias, podia-se ver a silhueta da menina ao sol,
cabelo ao vento, cavalgando no topo da montanha, feliz agarrada a seu cavalo.
Nunca mais ela deixou de cavalgar, e seus olhos passaram a ter somente uma cor,
a cor da real felicidade... da essência de quem sabe ser.
Carlos Menino Beija-flor
Carlos Menino Beija-flor
Dedicado à minha
amiga Lisandra Fernandes, que está iniciando uma cavalgada literária
poética com maestria.
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NOTA:
É com grande prazer que abro os marcadores de amigos poetas e escritores aqui no blog.
Começando com o querido amigo
poeta Carlos Menino Beija-flor que me presenteou com esse belo texto e por quem tenho grande carinho e admiração.